A aliança com os franceses, prevista no Plano Estratégico de Defesa Nacional, será apresentada a um grupo de ministros na terça-feira e lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias. Delineado há oito meses pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, o programa tem o objetivo de redirecionar as prioridades das Forças Armadas para os próxi mos 30 anos, além de reativar a indústria bélica do país. O documento não vai detalhar as compras, mas o pacote inclui submarinos, helicópteros e caças supersônicos. Os acordos com a França são os mais adiantados.
– O programa não é uma lista de compras, mas um conjunto de orientações – diz um interlocutor do ministro. A mobilização brasileira coincide com o rearmamento maciço da Venezuela, que preocupa o governo dos EUA e os militares do Brasil.
O país de Hugo Chávez comprou, apenas da Rússia, US$ 4 bilhões em armas nos últimos anos. Na lista estão 24 caças Sukhoi 30 MK2, 53 helicópteros de transporte e ataque e 100 mil fuzis AK-103. A Venezuela pretende adquirir ainda 15 submarinos lançadores de mísseis e 130 navios. Em janeiro, Jobim realizou um périplo por estaleiros e fábricas da França, da Rússia e dos EUA, mas quando deixou Paris praticamente havia selado o acordo com os franceses.
A contribuição de Sarkozy começará pelo mar. O acerto leva em conta o protagonismo que a Marinha adquiriu nas negociações, principalmente após a descoberta de jazidas de petróleo nas camadas de pré-sal do Atlântico Sul. É consenso dentro do governo a necessidade imediata de recompor a frota sucateada da Marinha para proteger as novas plataformas. O presidente francês desembarca no Brasil em 22 de dezembro, acompanhado de Carla Bruni, quando deverá assinar os primeiros acordos bilaterais.
A parceria prevê a construção de três submarinos convencionais Scorpène, de propulsão a diesel, e a incorporação de tecnologia para a construção de um submarino nuclear, projeto que não sairá por menos de US$ 7 bilhões. Mas a aliança com a França ultrapassa os acordos navais. Para o Exército, a novidade é o projeto batizado de “Soldado do Futuro”. Prevista para ser implementada na selva amazônica, região na qual o governo pretende reforçar a presença militar, a iniciativa inclui a instalação de chips nos uniformes dos soldados.
– Eles ficarão conectados a uma central de operações, terão câmeras nos capacetes e até o estado de saúde do soldado em combate poderá ser monitorado – revela uma fonte do Ministério da Defesa. Para dar suporte a estas operações, serão comprados 51 helicópteros de transporte Cougar 725. Eles serão adquiridos junto à Helibrás, empresa sediada em Minas Gerais, mas controlada pela francesa Eurocopter. A produção atenderá às três forças.
– As compras serão alinhadas de acordo com definições estratégicas. E a França tomou a dianteira ao propor compartilhamento de tecnologia – comenta o especialista em assuntos militares Nelson Düring, editor do site Defesanet.
Lula ainda não autorizou a assinatura dos contratos
A única compra que ainda não está fechada é a dos caças supersônicos. Mesmo assim, a preferência mais uma vez é dos franceses, produtores do jato Rafale. A expectativa é concluir as aquisições até dezembro, com a encomenda de 12 aviões para substituir caças Mirage comprados em 2006, mas cuja desativação começará em 2015. O fabricante, a também francesa Dassault, promete trazer para o país a tecnologia de construção do caça, em um projeto que pode envolver a Embraer. Outros países detentores de tecnologia bélica, contudo, ainda mantém esperanças de vender ao Brasil.
Preterida no pacote de compras de Jobim, a Rússia terá um prêmio de consolação. O governo do primeiro-ministro Vladimir Putin está fechando acordos periféricos, como a construção de uma fábrica de blindados no Rio Grande do Sul e a venda de 12 helicópteros de ataque MI-35 à FAB, ao preço de US$ 20 milhões cada.
Apesar dos avanços nas negociações, Lula ainda não deu o sinal verde para a assinatura de contratos. Faltam alguns ajustes, principalmente em relação ao aumento dos recursos da Defesa no orçamento da União. Jobim tenta ampliar para R$ 10,9 bilhões a verba disponível para investimentos. A indústria bélica nacional, porém, já comemora. Em uma reunião na última terça-feira, em São Paulo, representantes de 52 empresas do setor salientaram a previsão do governo de que, até 2010, metade dos equipamentos de segurança nacional terão de ser adquiridos de empresas locais.
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